domingo, 2 de maio de 2010

Pra isso serve o Abramowitz e o Gradshteyn

3,14159... er... Tá bom, né?


Fonte.

'Children DO NOT read horoscopes'...


Esse vídeo faz parte de uma sequência de vídeos feitos durante palestras promovidas pelo Google nas dependências da empresa.

Esse camarada, chamado Neil DeGrasse Tyson, é um dos importantes divulgadores da ciência e do método científico no momento.

Pessoalmente, acho que ele não chega aos pés de Carl Sagan em termos de carisma e conhecimento (tanto científico quanto histórico e filosófico) mas sem dúvida é muito mais interessante que Michio Kaku ou o coitado do Marcelo Gleiser. E é até engraçado.

Nesse vídeo ele fala um pouco do material contido no seu livro, contando resumidamente como foi a história de Plutão, desde a descoberta teórica (confirmada pelas observações posteriores) de Netuno, até o recente rebaixamento a planeta-anão.

Entre outras coisas, ele fala da hierarquia dos personagens da Disney (ele explica por que o Mickey, que é um rato, é dono de um cachorro, o Pluto. Também explica por que o Pluto e o Pateta são diferentes, mesmo sendo cachorros [!!!]); de filmes de ficção (ele explica por que razão Deep Impact é melhor que Armageddon); explica de maneira muito simples como saber que o fim do mundo em 2012 é uma babaquice; etc. Vale a pena assistir até o fim. Fonte.

Quem se interessar pelo estilo do DeGrasse, pode querer dar uma olhada nesses outros vídeos:

The god of the gaps: aqui ele fala sobre como a idéia do design inteligente (conhecido na língua portuguesa como argumento do desígnio) surge mesmo entre os pensadores mais importantes da História e como esse vício atrasa o progresso científico em séculos;

Ten questions for Neil DeGrasse Tyson: dá pra perceber que o DeGrasse fala muito em Newton. Preciso dizer que concordo com ele nesse aspecto — a maioria dos físicos concorda —, porque é indiscutível que Isaac Newton foi a epítome, a personificação do rigor e da eficiência do método científico. Ele formulou perguntas (importantes), procurou respondê-las (e conseguiu responder a maioria delas) a partir de primeiros princípios e pra isso chegou a desenvolver, sozinho e a partir do nada, ferramentas matemáticas sofisticadíssimas, que são a base de toda a matemática usada hoje pelos cientistas. Como diz o DeGrasse, depois de tudo isso, a próxima coisa que ele fez foi completar 26 anos;

Dawkins vs. Tyson: dessa vez eu concordo com o Dawkins, hehe... Eu tenho uma opinião sobre esse assnunto: em geral, a visão de mundo e o comportamento de alguém são fruto da educação recebida em casa, assim como dos costumes sociais da comunidade, do grupo de amigos com quem essa pessoa convive, se ela tem ou não uma religião e do conjunto de dogmas dessa religião...
Em alguns casos as pessoas lêem livros e tiram conclusões pessoais, construindo uma identidade pessoal a partir da qual se delineia um caminho a seguir e uma maneira de segui-lo. No meu caso, minha pré-adolescência foi essencialmente um período muito turbulento e fértil intelectualmente. Eu ouvia muita música, de Mozart a Marduk, lia avidamente, de E.A. Poe a Sartre e, somando-se a tudo isto uma quantidade saudável de hormônios, acabei construindo uma personalidade instrospectiva, inquisitiva, um tanto raivosa e intolerante. Grande parte dessa personalidade eu ainda guardo. Mas foi na divulgação científica de Carl Sagan que vislumbrei os principais fundamentos da  minha visão de mundo atual.
Além do Sagan, muito tempo atrás eu li o "Assim falou Zaratustra" de Nietzsche e, pela primeira vez na vida, alterei meu comportamento e minha visão de mundo por causa do que li num livro de filosofia. No Zaratustra, Nietzsche conta a história de um messias, que constrói (ditongo aberto não tem mais acento*?) uma filosofia e sai pelo mundo "educando as pessoas" (resumidamente, a filosofia do Zaratustra diz que o homem é um estágio intermediário entre o macaco e o 'super-homem' ou 'sobre-homem', ou ainda 'além do homem'... As traduções do alemão são sempre incompletas. O termo original é übermansch. De toda forma, para o Zaratustra o estágio 'humano' deveria ser superado e a idéia de deus deveria ser abandonada). Enfim, no quarto livro (na quarta parte, a última parte do livro que é dividido em quatro livros), os homens sobem a montanha em busca do Zaratustra, procurando algo novo para adorar, uma vez que deus está morto, e eles não estão preparados para se tornarem criadores eles próprios. Encurtando a história, os homens acabam adorando um jumento e o Zaratustra percebe que esses não são os super-homens que ele veio anunciar.
Há uma lição muito importante a se tirar dessa história. Relembrando o que o DeGrasse fala no vídeo: ele critica o Dawkins por desperdiçar seu talento como divulgador, apenas jogando conhecimento no ar e não educando as pessoas cientificamente, contextualizando esse conhecimento a partir do sentimento individual de cada um. O que o Nietzsche ensina no Zaratustra é que o conhecimento transmitido para as pessoas que não estão preparadas para ele pode ser perigoso, ou, na melhor das hipóteses, inútil. Aí eu concordo com a resposta do Dawkins, que cita um editor da revista New Scientist, dizendo que a ciência é interessante, então, quem quiser que corra atrás... Senão, FUCK OFF!;

The Universe is in us: aqui o DeGrasse fala um pouco sobre o vislumbre que os astrônomos e astrofísicos (e todo mundo, sejamos sinceros) experimentam quando tentam entender as estruturas do céu noturno. Ele também desenterra antigos argumentos do Carl Sagan: (1) nós somos matéria estelar (star stuff), ou como ele prefere, poeria estelar (stardust); (2) observar o universo real pode ser tão catártico e apoteótico quanto a religião, ou seja, o universo é bonito por si só, sem que haja a necessidade de imaginar entidades fantasmagóricas como deus, o saci-pererê e o papai noel.

Outros vídeos interessantes do DeGrasse e outros divulgadores da ciência podem ser encontrados, obviamente, no youtube, a partir dos vídeos relacionados aos que eu citei. Boa viagem.

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* Finalmente fui conferir no novo acordo ortográfico: o ditongo aberto só perdeu o acento em palavras paroxítonas como ideia e paranoia, mas permanece nas palavras oxítonas como constrói. Mas o fato é que eu não aderi a essa mudança, como é possível perceber.