sexta-feira, 26 de março de 2010

Hora do Planeta: 2010

Nosso planeta é apenas um pálido ponto azul na imensidão do universo. Nossa atmosfera é fina, frágil, rara e também incontrolável e imprevisível. Não é à toa que tantos filmes mostram ETs tentando invadir a Terra: nem que seja de maneira inconsciente, sabemos como nosso planeta é precioso. Os astrônomos já detectaram centenas de planetas em vários pontos da via láctea, mas nenhum deles aparenta apresentar as características que propiciaram o surgimento da vida na Terra: abundância de compostos orgânicos e água, proximidade moderada de uma estrela e a presença de uma atmosfera com baixa quantidade de gases corrosivos, pressão compatível com a formação de organismos na superfície e, pra completar, uma camada protetora de ozônio, que impede a entrada excessiva de luz no espectro do ultravioleta, evitando o efeito estufa que transformou Vênus em um forno infernal. É um ensemble muito generoso e raro, portanto, precioso.

A pressão da atmosfera terrestre, em muitos textos de divulgação, tem  sua importância subestimada quando se trata de compor essa lista de pré-requisitos para o surgimento de vida. A nossa atmosfera está presa à superfície da Terra graças ao equilíbrio delicado de uma força dez trilhões de trilhões de trilhões de vezes mais fraca que a força eletromagnética; essa força é a gravidade. É isso mesmo. A força eletromagnética gerada por um elétron é 1036 (o número 10 seguido de 36 zeros) vezes maior que a força gravitacional produzida por este mesmo elétron. A Lua, por exemplo, tem um sexto do tamanho da Terra. São respeitáveis 7,349 x 1022 kg: aproximadamente cem bilhões de trilhões de toneladas. Mesmo assim, a Lua não tem gravidade suficiente para atrair uma atmosfera, por mais fina que seja: os gases se movem rapidamente, e no caso da Lua, atingem com facilidade a velocidade de escape e desaparecem da sua órbita. O oposto também não é interessante. Júpiter tem aproximadamente 320 vezes o tamanho da Terra, por isso exibe uma atmosfera ampla e densa, com tempestades que chegam a durar séculos, como é o caso da Grande Mancha Vermelha. No entanto, a pressão da atmosfera na superfície de Júpiter é aproximadamente duzentas mil vezes maior que a pressão ao nível do mar (aqui da Terra, lógico). Sem falar que lá chove ácido sulfúrico e essas coisas desagradáveis que ninguém quer presenciar.

Trocando em miúdos, o meu ponto aqui é reforçar o argumento que eu apresentei no post do ano passado: você pode achar que não, mas vivemos num equilíbrio muito delicado e, pela primeira vez na história da vida na Terra, uma espécie tem a tecnologia para AFETAR esse equilíbrio. Você pode achar que nunca vai faltar água na Terra, mas só 4,5% da água que você vê por aí é potável. Mesmo assim, metade disso está nas calotas polares e você NÃO VAI QUERER derreter esse gelo pra beber (vale lembrar que esse gelo está derretendo sem que a gente queira. Sabe quais as consequências* disso?). Você pode achar que nunca vai faltar ar, você pode achar que se o ar estiver poluído, basta passar um fim de semana no campo. Mas, como eu acabei de mencionar, a atmosfera é frágil, mas mais importante, também é IMPREVISÍVEL.

Enfim... Dia 27 de março de 2010 é a hora do Planeta versão 2.0. Todo mundo vai desligar as luzes por uma hora: das 20:30 às 21:30. Se você é cínico e acha que isso não ajuda em nada e o meio ambiente não vai se beneficiar de uma hora de comportamento consciente por parte dos macacos nus, você está COBERTO DE RAZÃO. Mas a hora do planeta é um ato simbólico, com o objetivo de divulgar esse tipo de comportamento consciente, para chamar a atenção das pessoas e das autoridades para o problema ambiental e, quem sabe, fazer com que as pessoas lembrem de apagar as luzes nos outros 364 dias do ano.



Eu vou apagar tudo.


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* Por falar em equilíbrio delicado, nosso planeta vive num mecanismo de retro-alimentação solar, que também não é mencionado quando se fala em aquecimento global e derretimento das calotas polares. As pessoas falam que se o gelo polar se derreter por causa do aumento da temperatura média do planeta, então o nível dos mares vai subir e algumas cidades vão ser submersas. Elas também falam que a diminuição de gelo nas calotas interfere no sistema de resfriamento das correntes marítimas que vai ferrar com a vida marinha etc.

O problema não pára por aí. Você reparou como aqueles esquiadores da olimpíada de inverno tem uma marca de queimadura (bronzeado) ao redor dos óculos de proteção? Mas como, se os caras tão no meio da neve e não tem esse sol todo lá? A camada de gelo reflete a luz do sol com eficiência muito maior que a areia da praia ou a água do mar. Esse sol queima os esquiadores, mas também é rebatido pra fora do planeta diminuindo a quantidade de calor que é absorvido. Se o gelo das calotas polares diminuir, é dado início a um ciclo de retro-alimentação: menos gelo nas calotas implica em menos sol refletido pra fora da Terra, que implica em mais calor absorvido, que implica em mais gelo derretido, que implica em menos gelo nas calotas.  Isso não é bom pra quem pretende habitar a Terra.

Uma modalidade reversa desse sistema de retro-alimentação é um dos responsáveis pelas eras glaciais. Se algo fizer com que a temperatura da Terra DIMINUA, a engrenagem começa a girar: o gelo nas calotas aumenta em volume, MAIS sol é refletido pro espaço, MENOS calor é absorvido, a temperatura da Terra diminui e mais gelo se forma nas calotas.

É isso aí. O buraco é mais embaixo e a gente não tem controle da Natureza. O melhor que você faz é cumprir com o seu papel e fazer a sua parte. Recicle o lixo asqueroso que você produz, economize energia e garanta uns milênios para a espécie.