Nosso planeta é apenas um pálido ponto azul na imensidão do universo. Nossa atmosfera é fina, frágil, rara e também incontrolável e imprevisível. Não é à toa que tantos filmes mostram ETs tentando invadir a Terra: nem que seja de maneira inconsciente, sabemos como nosso planeta é precioso. Os astrônomos já detectaram centenas de planetas em vários pontos da via láctea, mas nenhum deles aparenta apresentar as características que propiciaram o surgimento da vida na Terra: abundância de compostos orgânicos e água, proximidade moderada de uma estrela e a presença de uma atmosfera com baixa quantidade de gases corrosivos, pressão compatível com a formação de organismos na superfície e, pra completar, uma camada protetora de ozônio, que impede a entrada excessiva de luz no espectro do ultravioleta, evitando o efeito estufa que transformou Vênus em um forno infernal. É um ensemble muito generoso e raro, portanto, precioso.
A pressão da atmosfera terrestre, em muitos textos de divulgação, tem sua importância subestimada quando se trata de compor essa lista de pré-requisitos para o surgimento de vida. A nossa atmosfera está presa à superfície da Terra graças ao equilíbrio delicado de uma força dez trilhões de trilhões de trilhões de vezes mais fraca que a força eletromagnética; essa força é a gravidade. É isso mesmo. A força eletromagnética gerada por um elétron é 1036 (o número 10 seguido de 36 zeros) vezes maior que a força gravitacional produzida por este mesmo elétron. A Lua, por exemplo, tem um sexto do tamanho da Terra. São respeitáveis 7,349 x 1022 kg: aproximadamente cem bilhões de trilhões de toneladas. Mesmo assim, a Lua não tem gravidade suficiente para atrair uma atmosfera, por mais fina que seja: os gases se movem rapidamente, e no caso da Lua, atingem com facilidade a velocidade de escape e desaparecem da sua órbita. O oposto também não é interessante. Júpiter tem aproximadamente 320 vezes o tamanho da Terra, por isso exibe uma atmosfera ampla e densa, com tempestades que chegam a durar séculos, como é o caso da Grande Mancha Vermelha. No entanto, a pressão da atmosfera na superfície de Júpiter é aproximadamente duzentas mil vezes maior que a pressão ao nível do mar (aqui da Terra, lógico). Sem falar que lá chove ácido sulfúrico e essas coisas desagradáveis que ninguém quer presenciar.
Trocando em miúdos, o meu ponto aqui é reforçar o argumento que eu apresentei no post do ano passado: você pode achar que não, mas vivemos num equilíbrio muito delicado e, pela primeira vez na história da vida na Terra, uma espécie tem a tecnologia para AFETAR esse equilíbrio. Você pode achar que nunca vai faltar água na Terra, mas só 4,5% da água que você vê por aí é potável. Mesmo assim, metade disso está nas calotas polares e você NÃO VAI QUERER derreter esse gelo pra beber (vale lembrar que esse gelo está derretendo sem que a gente queira. Sabe quais as consequências* disso?). Você pode achar que nunca vai faltar ar, você pode achar que se o ar estiver poluído, basta passar um fim de semana no campo. Mas, como eu acabei de mencionar, a atmosfera é frágil, mas mais importante, também é IMPREVISÍVEL.
Enfim... Dia 27 de março de 2010 é a hora do Planeta versão 2.0. Todo mundo vai desligar as luzes por uma hora: das 20:30 às 21:30. Se você é cínico e acha que isso não ajuda em nada e o meio ambiente não vai se beneficiar de uma hora de comportamento consciente por parte dos macacos nus, você está COBERTO DE RAZÃO. Mas a hora do planeta é um ato simbólico, com o objetivo de divulgar esse tipo de comportamento consciente, para chamar a atenção das pessoas e das autoridades para o problema ambiental e, quem sabe, fazer com que as pessoas lembrem de apagar as luzes nos outros 364 dias do ano.
Eu vou apagar tudo.
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* Por falar em equilíbrio delicado, nosso planeta vive num mecanismo de retro-alimentação solar, que também não é mencionado quando se fala em aquecimento global e derretimento das calotas polares. As pessoas falam que se o gelo polar se derreter por causa do aumento da temperatura média do planeta, então o nível dos mares vai subir e algumas cidades vão ser submersas. Elas também falam que a diminuição de gelo nas calotas interfere no sistema de resfriamento das correntes marítimas que vai ferrar com a vida marinha etc.
O problema não pára por aí. Você reparou como aqueles esquiadores da olimpíada de inverno tem uma marca de queimadura (bronzeado) ao redor dos óculos de proteção? Mas como, se os caras tão no meio da neve e não tem esse sol todo lá? A camada de gelo reflete a luz do sol com eficiência muito maior que a areia da praia ou a água do mar. Esse sol queima os esquiadores, mas também é rebatido pra fora do planeta diminuindo a quantidade de calor que é absorvido. Se o gelo das calotas polares diminuir, é dado início a um ciclo de retro-alimentação: menos gelo nas calotas implica em menos sol refletido pra fora da Terra, que implica em mais calor absorvido, que implica em mais gelo derretido, que implica em menos gelo nas calotas. Isso não é bom pra quem pretende habitar a Terra.
Uma modalidade reversa desse sistema de retro-alimentação é um dos responsáveis pelas eras glaciais. Se algo fizer com que a temperatura da Terra DIMINUA, a engrenagem começa a girar: o gelo nas calotas aumenta em volume, MAIS sol é refletido pro espaço, MENOS calor é absorvido, a temperatura da Terra diminui e mais gelo se forma nas calotas.
É isso aí. O buraco é mais embaixo e a gente não tem controle da Natureza. O melhor que você faz é cumprir com o seu papel e fazer a sua parte. Recicle o lixo asqueroso que você produz, economize energia e garanta uns milênios para a espécie.
Assim que você postou esse texto eu escrevi um comentário... Mas, por clicar, ou fazer algo que não sei o que foi, perdi o texto.
ResponderExcluirBem, mas escrevi um post no Macaco Alfa sobre essa atitude de ter a intenção de salvar o mundo, mas a prática de verdade... passa longe neste sistema capitalista cheio dessas crises de pequeno burguês!!!
Segue o link do meu post:
http://macacoalfa.blogspot.com/2010/04/barbarie.html
Para salvar o planeta... A Revolução é o único caminho. Ou isso, ou a BARBÁRIE!!!
Leia também:
http://resistir.info/mreview/barbarie.html
E eu escrevi minha resposta.
ResponderExcluirAntes de ser um pequeno burguês (ou um grande pobretão) eu sou físico e cientista. Minha atitude de divulgação e conscientização é o mínimo que se espera de alguém com a minha formação.
O mesmo serve pra você. Como diz minha mãe, "Jesus foi só uma pessoa que queria divulgar suas idéias, como tem hoje muita gente que quer divulgar suas próprias idéias". Nós somos os "Jesuses" do século XXI. Você prega seu aniquilacionismo eu prego a iluminação tecnológica e científica. Problemas políticos não me interessam nem nunca me interessaram (e acho que posso dizer que não vão interessar nunca).
Antes de se comparar, saiba que esse homem só fez uma coisa na prática: POLÍTICA. As causas sociais interessavam demais o seu exemplo histórico.
ResponderExcluirVocê sabe que estou certo, mas não vai mudar nada. O que está em nossa volta é um leviatã construído século após século... Isso não é "aniquilacionismo", é REALISMO! Eu não finjo que milhões de pessoas não possuem problemas sociais e que isso sim, é a fonte de todo o mal de nossa época.
Ah! Primeiro, você publica algo. Você tem que ter pelo menos uma hipótese publicada para se auto-proclamar "cientista" - [Obs.: isso não é uma provocação, porque sei de seu potencial e quero demais o seu bem... Como o grande pesquisador que irá se transformar.]
Agora, confessa... Jesus do século XXI?! Fumou quantos hoje?! Ou resolveu experimentar o chazinho do santo daime?! [rsrsrsrs]
Você simplifica demais as coisas.
ResponderExcluirQue o cara era político não interessa. Interessa que ele tava lá dizendo o dele. Assim como a gente tá dizendo o nosso.
Só uma última dúvida:
ResponderExcluirPor que não se apagam as luzes das residências por uma noite inteira?!
Sabem o que tem lá fora, né?! Imagina!? Se anunciassem que todos ficarão com as luzes apagadas durante toda a noite(*)... Se tiverem essa idéia... não esqueçam de chamar o exército para patrulhar as ruas!!!
(*) Salvo locais como hospitais, escolas, etc.
Isso é o clássico cinismo que me fez bradar adoidado no seu blog.
ResponderExcluirIsso aí sim não dá em nada.
Lê as "Imposturas Intelectuais" de Sokal e Bricmont. Tu faz quase tudo que tem lá.
Eu tenho e li Sokal & Bricmont (1999), cara, é uma crítica ao pós-modernismo... nada haver a citação aqui.
ResponderExcluirMas... isso sim tem haver:
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"Embora a classe média detenha em mãos poderoso capital político, ela tem dificuldade de se organizar, de criar redes sociais, estabelecer vínculos de solidariedade. Praticamente só se associa quando se trata de religião. E revela aversão à política, sobretudo devido à corrupção" (Frei Betto, 2010).
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É a tua cara!!!
Mais em: http://macacoalfa.blogspot.com/2010/04/classe-media.html
Cara, Imposturas Intelectuais tem umas 300 páginas. Não é simplesmente uma crítica ao pós-modernismo.
ResponderExcluirTem "a ver a citação aqui", a crítica ao uso inadequado dos termos e conceitos científicos ou de falácias lógicas e atitudes dialeticamente "anti-éticas", como argumentos ad hominem com os quais você é profissional.
Eles fazem essa crítica em vários campos (sem pegar o livro eu lembro de Lacan, Deleuze, a epistemologia etc) não só para o relativismo científico que é o ponto principal da ciência pós-moderna que eles abordam.