quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Nobel e a quebra de simetria

Gostaria de fornecer informações mais completas sobre o que falei antes do prêmio Nobel relacionado com a quebra espontânea de simetria.

Em 2008 o prêmio de física foi concedido a um trio de japoneses pelo seu trabalho na busca por entender como as simetrias fundamentais da Natureza são quebradas. Makoto Kobayashi do Japan's High Energy Accelerator Research Organization (KEK) em Tsukuba e Toshihide Maskawa do Yukawa Institute for Theoretical Physics (YITP) na Universidade de Kyoto receberam um quarto do prêmio cada um pela descoberta da origem da "simetria quebrada" que contribuiu para uma preponderância da matéria sobre a antimatéria no universo e que prevê a existência de pelo menos três famílias de quarks na natureza. Essa quebra de simetria é a razão pela qual o universo inteiro existe. Se a simetria permanecesse, quantidades iguais de matéria e antimatéria seriam criadas e se aniquilariam aos pares, resultando apenas em radiação.

Duvido que tenha algum crente, religioso, criacionista, adorador do saci-pererê e da mula-sem-cabeça lendo esse blog, mas caso algum de vocês esteja aí, preste muita atenção no que estou falando pra usar como argumento na sua próxima conversa com um ateu. Essa escolha peculiar do funcionamento das coisas [e bote peculiar nisso, existe apenas uma partícula extra de matéria para cada 10 bilhões de pares de partículas e antipartículas criadas, suficiente para criar todas as galáxias do universo, inclusive você] seria uma pista da existência de um plano inefável arquitetado por um criador? Ou seria coincidência? Ou seria a existência de duas dessas partículas descobertas por Kobayashi e Maskawa? Bom, você não vai querer pensar nessas duas últimas hipóteses, não é verdade?

A outra metade do prêmio foi para Yoichiro Nambu do Enrico Fermi Institute na Universidade de Chicago, pela descoberta do mecanismo [posterioremente chamado de campo de Higgs] de quebra de simetria entre as quatro interações [gravitacional, eletromagnética, forte e fraca] na física de partículas elementares em 1960.

Sua teoria é a semente do mecanismo de Higgs, cuja descrição matemática foi feita quatro anos depois pelo físico americano para explicar a origem das massas das partículas e que hoje faz parte do modelo padrão.

Há quem aposte que o prêmio Nobel dos japoneses é uma prévia do prêmio que deverá ser dado a Higgs em 2009, após a observação do bóson de Higgs no LHC.

Fontes:
http://nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/2008/
http://cienciahoje.uol.com.br/129961
http://www.nature.com/news/2008/081008/full/news.2008.1155.html

2 comentários:

  1. Física das partículas é apaixonante, embora tenha diversos nomes novos a cada segundo, diversas fórmulas nascem nas publicações mundo afora, e manter-se atualizado é um trabalho hercúleo. Já passei algumas semanas de férias estudando a mesma, para ganhar argumentação contra os crias, mas não tive paciência para continuar os estudos, tem de ter um bom embasamento da origem das fórmulas. Então, acho fantástico você expor isso aqui didaticamente.

    Sempre vejo por aí colocarem o Bóson de Higgs como Bóson de Deus, ê imprensa, viu?

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  2. Alô camarada Allysson...

    Obrigado pelo comentário nesse meu árido e humilde blog.

    Pois é cara, eu sempre quis escrever alguma coisa (ou pelo menos botar no "papel" todas aquelas conversas que a gente tem quando está caindo de amores pela ciência) sobre esses assuntos que acabaram por me fazer estudar física.

    É meio que um alívio poder colocar isso aqui, principalmente sabendo que pelo menos uma alma está tirando algum proveito disso.

    Boa sorte na luta contra a pseudo-ciência.

    P.S.: Mesmo cientistas que se dizem sérios têm chamado o bóson de Higgs de partícula de deus em seus livros. É o famoso sensacionalismo. Em tempos onde o dinheiro só vai para os médicos e advogados que andam com seus carrões pelas ruas, vender o peixe é fundamental. É uma lástima.

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